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domingo, 17 de novembro de 2019

Volte para casa


          Ele havia desmoralizado o pai, havia desmoralizado a família; havia desmoralizado os de sua cidade...
          O ato que fez foi de muita vexação: como se tivera dado um tapa na cara de seu pai, em presença de todos. Um ato vexatório, sem precedentes na história da família. “Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence que eu vou me embora. Dá-me o que é meu porque eu já estou indo!” Ele não trabalhara para adquirir o que ele estava pedindo, pedindo não, ele estava exigindo. O pai divide pelos dois filhos a herança.
          O pai, um patriarca antigo cujo respeito era obtido de todos, agora passa por essa vexação. Dias depois ele, o filho mais novo, sai de sua casa rumo a uma cidade distante. Deixa a casa paterna para viver dissolutamente longe do lar. Assim muitos já fizeram, deixaram a casa dos pais para viver distante deles. O desejo era viver livre de qualquer intromissão do pai, viver ao seu bel prazer. Viver sem que ninguém soubesse de como ele estava vivendo.
          Nessa liberdade se vê só, sem auxílio de quem quer que seja; e nessa situação se vê sem nada, tendo perdido tudo. E, diante da fome, precisa de emprego e não encontra, se não um de cuidar de porcos, uma humilhação jamais vista; pois para um judeu é a pior coisa que podia acontecer. Com fome, resolve disputar com os porcos a comida e ninguém lhe dava nada! Assim é o que acontece com todo aquele que deixa a casa paterna e se vai pelo mundo afora. Passa fome, vida apartada de Deus é vida de fome terrível e de morte espiritual.
          No momento, esse jovem cai em si e diz: “quantos empregados de meu pai tem abundância de pão e eu aqui passando fome, levantar-me-ei e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei pai, pequei contra o céu e perante ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; faz-me como um de seus empregados.” Que decisão sábia: voltar para casa. Essa é a mais sábia decisão a ser tomada.
          Volta para casa; em casa do pai há abundância de pão. O pai sabia que um dia o filho voltaria; e nunca deixou de o esperar. Todos os dias ficava a contemplar a estrada para ver concretizada a sua esperança de vê-lo de volta. Um dia esse pai, certo de que o filho voltaria, vê em andrajos um ser vindo em sua direção. Esse pai amoroso corre em direção desse filho. Lembremos de que ele era um patriarca e usava roupas compridas, e para correr precisava levantar essas roupas, deixando assim aparecerem suas pernas, coisa não comum pois os patriarcas das famílias nunca mostravam suas pernas, então teve de passar vergonha mais uma vez, agora para receber o filho de volta ao lar.
          Você não precisa voltar ao lar, se não quiser pode continuar a disputar com os porcos a comida. Mas, o pai o espera, volte e seja feliz de novo em sua casa.